domingo, 7 de dezembro de 2008

Mad

Foi numa manhã de domingo, quase chegando a hora do almoço, que havia acordado e ligado a televisão, passando naquela caixa de cores e som um filme que sempre quis seguir seu personagem principal.

Imaginava vezes em que, com sua vida realizada - trabalho, família, casa e carro: sonho de consumo latino-americano -, um assassino ou outra espécie de bandido - enquadrando aí qualquer forma de político e gente rica - mataria friamente todas as pessoas que mais amava naquela vida futura: mulher e filhos.

Partiria daí em diante a viver "nas escuras": carro possante, cachorro esperto do lado, vida solitária, andando de um lado para o outro com o carro, esperando o tempo passar, morrendo lentamente, com uma arma escondida na cintura, camisa, calça e bota da cor preta, sem preocupação mais com coisa alguma. Crises, jogos de futebol, responsabilidade, solidariedade, esperança... nada disso mais lhe importava. Não tinha mais sentimentos humanos. Era uma alma vazia.

Mas voltava de novo a trocar de canal. Então pensou naquele sonho que acabava de ter. Era a resposta sincera de uma pessoa, que nunca pensava em conhecer e ao mesmo tempo transformar sua vida como transformou. Muitas coisas que gostava de fazer - e também do que não gostava - passou a deixar de fazer - ou fazê-las. E para seu bem. Não que aquilo fosse sim o que mudaria sua vida, mas é que sabia que, de alguma forma, ela tocara seu coração, e isso sempre falava mais alto, para seu próprio bem.

Era uma resposta simples, que veio por intermédio dos seus temíveis sonhos. Já havia ouvido essa resposta vez passada: "que o melhor era as coisas ficarem assim do jeito que estão"... Mas no seu sonho tudo mudava, tudo se transformava. Era algo extraordinário que acontecia, que nem ele sabia explicar - na verdade, nem os seres humanos conhecedores das ciências mentais sabem explicar.

Era tão simples que naquele domingo todo ele já se contentava em não mais pensar nela, o que já era algo realmente difícil. Mas deixa assim (frase do telefone).

E só de pensar que nessa vida louca da cidade qualquer pessoa, a mais boa que seja, pode morrer por coisas mais estúpidas imagináveis, como uma discussão à toa no trânsito. Daí ele voltaria a ser o louco do carro possante, caso os dois ficassem juntos no futuro e ela morresse assim do nada. Do nada...