segunda-feira, 30 de junho de 2008

A árvore do morro que não me veio o nome


Era uma árvore lá do alto do morro, cujo nome não me veio à memória logo na primeira vez que a vi. Era algo contrastante com o centro de Vitória e aquilo que um dia chamavam de natureza.

Ficava lá em cima daquele morro que ainda não me veio o nome à cabeça. Dali podia se ver perfeitamente os navios que ancoravam na baía de Vitória, porém na verdade quase todos estavam do outro lado, no “outro continente”.

Dali se avistava também o morro, um contraste com o centro. Por aqui, tudo girava em torno de dinheiro e poder, processos e despachos, ações e debêntures, camisas e paletós, ternos e gravatas, saias pequenas e vestidos longos. Por lá, pedras avulsas e papéis com pozinho branco, meninos correndo para soltar pipa e cana entrando – ou na goela do aposentado esquecido da vida, ou dentro do morro aos tiros e prantos.

Mas era uma árvore, que deveria representar aquilo que um dia se chamava natureza. E, logo ali, ela reinava sozinha, sem mais nenhuma outra por perto, do alto daquele morro que não me veio o nome. Devia ela se sentir poderosa, indestrutível, incontrastável, invencível.

Ora, então não seria um contra-senso pensar em algo tão importante assim sem ao menos me recordar do nome daquele tão belo morro, que de Vitória já se avistava sua magnitude no “outro continente”? Pelo menos aquela linda e solitária árvore não sofre desses problemas humanos, e assim ela continua seu reinado.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Lembranças de uma tarde de janeiro


Com poucas palavras começaremos a nos embriagar. Que fosse somente uma dose, ou duas, de poucas palavras, nem tão poucas assim, mas suficientes para não viajar mais na segunda classe, ou não. Que fosse um reviver econômico de palavras e doses etílicas, mas que não deixasse nunca, jamais, o rugido da raiva se despertar como uma sombra profunda nas entranhas do fim daquele mês.

Deixa-se mais um tempo, mas não a deixaste jamais. Viraria para um lado com o intuito de expelir aquele horrendo vômito, sugado pela terra fofa. Aquele sentimento de férias e alegria, liberdade incontrolada que pairava no rosto de cada um que presenciasse a cena, sabendo que responsabilidade alguma tinha com aquilo.

Mas ainda não se sabia quais eram as palavras pronunciadas, talvez nem se lembrasse mais, como seria o óbvio que acontecesse. Acontecer nem aconteceu nada, nem precisa discutir o que houve porque não houve. Talvez o que fosse o essencial da aproximação já tinha acontecido: o fato de chamarem os dois, simplesmente, de namorados – poucas palavras, mas que são carregadas para uma vida inteira.

Com certeza, mais uma lembrança inesquecível de uma gloriosa tarde de janeiro.

04/09/2006