
Aquele sábado foi, sim, de intensa correria. Parecia aquele comercial "bom natal, um feliz natal, e muita paz pra você..." e no finalzinho de tudo chega o garotinho e canta a última parte: "pra vo-cê...." E acaba tudo perfeitamente simples (como se existisse essa frase).
Já no começo havia a preocupação da senhora em controlar seu medo de avião. Sentou-se, então, perto do pseudo-idealista prestador de concurso. Mas, exitando-se, conteve-se, ao mesmo tempo em que falava consigo: "vou conseguir suportar... eu tenho que suportar". E voltou ao seu lugar, mantendo-se friamente calma durante todo aquele longo percurso.
O comandante manteve-se também extremamente frio e com ar de que estava falsamente feliz, igual a aeromoça. Era o trabalho deles, óbvio. Desejavam, assim, com sorriso largamente estampado no rosto, uma "boa tarde". "Ah, quem dera", pensava o protegido.
Aquele cara também que foi fazer a prova estava quase que desistindo. Por duas vezes, tentou voltar para Vitória, antes de ir ao local da prova. O pseudo insistiu, mesmo que - aparentava - indiretamente, em continuar a seguir o caminho antes traçado: ir ao local da prova, de qualquer forma, atrasado ou não.
O Sub-Defensor deixou os dois entrarem, pois o começo da prova havia também atrasado em 1h35min. Antes, um pivete já chegava na porta do taxi e pedia dinheiro, dizendo que estava com fome. Claro, pseudo que não é bobo nem nada, disse: "Fome?", e tirou uma (das três) barras de cereais que tinha na mochila. A outra ficou com ele (embora nem almoçado tinha) e outra com o outro candidato, que avisava estar morrendo de fome.
O outro candidato estava, sem sombra de dúvida, muito mais preparado para a prova. Ali na hora era mais questão de honra: fome, cansaço, dor na perna, sede... nada disso importava mais. Os dois continuaram firmes em seguir em frente para a sala de realização da prova, com a "benção" do Sub.
Eis que o fiscal e também Defensor impede o pseudo de realizar a prova. Antes de entregar o documento, o qual já estava na sua mão, indo ao encontro da mão do Defensor, soa aquele alarme. Um tanto parecido com aqueles alarmes de empresas grandes, com centenas de funcionários, anunciado a hora do almoço ou mesmo a hora da saída. Ensurdecedor. "Ah não, assim não posso te deixar fazer a prova, meu amigo. Se você se atrasou, isso não me interessa. Se houve atraso no vôo, também estou com coração partido, mas não posso permitir que você realize a prova. Quem deixou você entrar? Você nem poderia ter passado do portão. Chegou atrasado. Não dá pra te deixar fazer a prova. É a regra".
Ah, benditas regras... por um instante achava que tudo daria certo, talvez um milagre (se bem que não existem milagres. Isso mesmo, não existem milagres!), sorte, obra divina, sei lá (de fato, sabia sim). Foi quase... quase... mas tão perto. Já era uma questão de honra fazer a prova. Mas como estaria o outro candidato. Pensou até em avisar ao Defensor que havia mais outra pessoa na mesma situação, que tinham sido autorizados lá na entrada. Mas nada. Ele era nada de ouvidos. E aguardou...
Personagem importante, talvez o principal, foi aquele que se aproximou logo após decorridos 5 minutos da prova. Afinal, era o 12º andar. Para chamar ele, que estava lá embaixo, até subir, com certeza demoraria.
"Faz com calma a prova, se você precisar de mais tempo, terá", eram as palavras do Sub-Defensor Público Geral. Era uma questão de honra. A mão tremia. Fez. Emocionado, mas fez.
Dali em diante foi um sonho realizado, mas tentando se concretizar. Não queria depois saber do resultado. Já era o resultado esperado. Mostrou que é capaz. Não um vencedor, assim, por dizer. Mas é esforçado, pelo menos isso é.
Saiu, e encontrou o cara que comandava o elevador. "Daqui daqui daqui é é perto to do Maraca ca nã nã é é perto po pode ir andan dando vai sim sim" (tudo falado muito rápido, inclusive). "Tá bom", respondeu. E foi. Já chegando tarde, sabia, mas foi.
Comprou um dos ingressos mais caros da história do futebol. Cambista é foda mesmo. Mas se não fosse ele, nem entrar entraria no Maracanã. Chegou e já lá estava o placar: 1 a 0. Gol do Pet. Gringo é o bicho. Lembrou dos 43 minutos do segundo tempo contra o Vasco em 2001. E por que não renovariam o contrato dele? Me diga, por quê? Eternamente gratos serão os mais de 30 milhões de brasileiros por esse jogador. Espetacular.
O taxista, no final do jogo, manteve-se a calma e disse: "O empate, meu caro, não foi por sua culpa não. Pode deixar que não é você, como você está dizendo, que é o azarado. O time está ruim mesmo. Assim não dá. Mas pode ter certeza que não tem nada a ver com você... você não é pé frio" (o pseudo também tinha chegado a essa conclusão).
Um chopp na rodoviária celebrou o final daquele dia. Entrando no ônibus, avistou o motorista com cara de criança, e ainda por cima com óculos de grau! Ficou preocupado. Porém, não esperava que a viagem fosse tão segura e tranqüila como tinha sido aquela. Uma das melhores. Pobre preconceito.
E passava por aquela cidade mais horrorosa que pudera imaginar. Mais uma vez veio aquela confusão em sua mente, de 7 anos atrás, mais ou menos. Confusão um tanto que louca. Tanto tempo passado. Tanta correria daquele sábado talvez o tenha surtado um pouquinho, sim. Afinal, a saudade aperta tem horas. Não dá pra controlar, eu sei, pseudo.
Fica quieto então, e reze cada vez mais (porque Ele sempre estará do seu lado).