quarta-feira, 24 de março de 2010

Vidas - parte II

O que acontece no exato momento que uma pessoa resolve acabar com a própria vida? O que ocorre nos momentos logo anteriores a isso? Qual a explicação que se poderá dar para o suicídio? Qual explicação encontraremos para justificar a perda intencional de uma vida humana?


Sinceramente, já diriam aqueles velhos pseudo-idealistas, não existe explicação alguma. Não existe mesmo. "Eu estava grávida e não sabia de quem era o filho", ou "estava grávida e não era do meu marido", ou "não passei no vestibular e estava em profunda depressão", ou "enchi o talo de droga e resolvi acabar com tudo logo depois que descobri que minha esposa me traíu com meu melhor amigo", ou "minha empresa está nas últimas e vai à falência", ou "perdi o emprego e minha mulher não me ama mais", ou "perdi meu filho que amo tanto num triste acidente de carro", ou "minha esposa foi estuprada e assassinada, na minha casa, enquanto os bandidos me faziam olhar para a cena, eu amarrado e sem poder fazer nada, e eles ainda estuprando minha filha menor de idade, logo após acabar com a vida de minha esposa, e até hoje os bandidos estão impunes"... Nada disso justifica a perda da própria vida.


A revolta, por óbvio, é justificável em certos casos (ainda mais nesse último que foi citado). Profunda revolta não combina em nada com desfazimento desse mundo de esperança, expectativa e sonhos que nos possibilita o desenrolar das relações humanas e do mundo em nosso redor. A vida é o bem maior, a vida em primeiro lugar, antes de tudo e de todos. Tudo pode ser contornado. O "jogo da vida" jamais tem seu fim, enquanto se pode viver com esperança e sonhos - sendo que a frase já se apresenta como um pleonasmo, pois viver já significa ter esperança e sonhos.


"Viver", isso que uma pessoa precisa. Chorar, sofrer, rir, conversar com amigos, dar gargalhadas, ouvir música triste, rock´n roll, rir mais ainda, chorar muito mais, sentir pressão no trabalho, curtir as festas, estudar feito um louco para a prova justamente na véspera, sofrer feito um maluco pelo seu time de futebol de coração, conversar com seu colega de sala de épocas passadas pelo telefone, trocar telefone com aquela linda moça que você acaba de conhecer, ler, escrever, rir e chorar mais ainda. Isso tudo é viver. É ter vontade de levantar cedo em plena terça-feira, abrir a janela, respirar profundo, rezar por um dia maravilhoso e sair em busca do mundo.


Sempre existirá uma dor profunda. Disso não há a menor dúvida. Mas só de pensar que uma alegria incontrolável virá após essa dor, passa a ser então a válvula de escape para todo o desenrolar do "jogo da vida".


A vida em primeiro lugar, única e absoluta. O riso fácil no rosto, depois de uma tremenda cicatriz, depois de uma perda, por mais injusta que seja, é a prova real da veracidade da vida. Converta-se à ela, somente a ela, e daí peça para ser iluminado para que nunca, em hipótese alguma, a fraqueza o convença do pior, onde a única solução para improváveis perguntas seja uma partida que não possa mais voltar atrás. (E não se esqueça da alegria de viver)

quinta-feira, 11 de março de 2010

Luto

"Segundo levantamento do IPEA, 35 mil pessoas morrem por ano no trânsito brasileiro, sem falar nas milhares de vítimas que ficam com seqüelas graves permanentes. Não é por acaso que o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking dos países que possuem o maior número de acidentes no trânsito, de acordo com dados da OMS - Organização Mundial de Saúde". (http://www.motonline.com.br/default.asp?cod=14321&categoria=6)

"Pelo segundo ano consecutivo, os acidentes de trânsito ultrapassam os homicídios e se tornam a principal causa de morte não natural da população paulista. De acordo com a pesquisa, apresentada pela fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) nesta quarta-feira, a taxa de mortes no trânsito em 2008 foi de 18 para cada 100 mil habitantes do Estado, mesma quantidade de 2007. Já os homicídios, líder de mortes nas duas últimas décadas, caíram para 14,27 mortes para cada 100 mil habitantes. Nos últimos 20 anos, cerca de 150 mil pessoas morreram em acidentes de trânsito em São Paulo. O número equivale à quantidade de moradores de São Caetano do Sul, no ABC paulista. Em 1997, a pesquisa registrou o maior índice de mortes por acidentes de trânsito: 25,7 a cada 100 mil habitantes. Entre 1996 e 2008, a taxa de mortalidade por atropelamentos caiu pela metade (de 10,1 para 5,1 óbitos por 100 mil habitantes). Apesar disso, o indicador de mortalidade por acidentes com motocicleta aumentou de forma significativa ao passar de 0,2 para 3,4 óbitos por 100 mil habitantes, no mesmo período". (http://www.band.com.br/transito-sp/conteudo.asp?ID=275033)

"Três pessoas de uma mesma família morreram, na manhã de ontem, em um acidente de trânsito na RS-446, em Carlos Barbosa, por volta das 8h30min. O motorista Salmir Mariana Leandro, 37 anos, que conduzia o Uno, era de Criciúma e morreu na hora juntamente com a esposa Leila Bortolini Danieleski, 28, e a filha Maria Eduarda Leandro, com dois meses de idade. A criança chegou a ser socorrida, mas faleceu a caminho do hospital do município. De acordo com os patrulheiros, o motorista do veículo seguia sentido Carlos Barbosa-São Vendelino quando perdeu o controle e se chocou contra um paredão de pedra no Km 8 da rodovia. Salmir era natural de Criciúma, mas morava em Estância Velha há cerca de oito meses. Os irmãos Eduardo Danieleski, cinco anos, e Kauana Danieleski, 9, estão internados em estado estável no Hospital Tacchini, em Bento Gonçalves. As crianças são filhos de um relacionamento anterior de Leila". (http://www.atribunanet.com/home/site/ver/?id=112559)

"Márcia Fernandes Henn completaria nesta quinta-feira, dia 11 de março, 25 anos se não tivesse sido mais uma vítima de acidente na Capital, a cidade com o trânsito mais violento. Ela morreu há exatos um mês na UTI (Unidade de Terapia Intensiva da Santa Casa), onde ficou internada desde o dia 3 de fevereiro quando o veículo Gol conduzido por Rui Daniel Nogueira do Amaral, 34 anos, atingiu seu carro, um Eco Sport.
Hoje, amigos, acadêmicos de Medicina fizeram um ato pela paz no trânsito. Ao menos cem jovens protestaram no cruzamento da Avenida Afonso Pena com a Rua Bahia, no Centro de Campo Grande.
A tragédia aconteceu no cruzamento da Rua Padre João Crippa com Amazonas, no Jardim dos Estados, bairro nobre. Era madrugada de uma quarta-feira e a jovem havia saído da casa de amigos, com quem estudava.
Naquele instante acabou o sonho da acadêmica de Medicina. Ela estudava para exercer a Pediatria. Márcia, segundo amigos, era dedicada e muito alegre. “Ela era muito divertida, estudiosa. Uma pessoa maravilhosa”, conta Tatiane de Menezes que estudava com Márcia no 5º ano do curso de medicina na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)". (http://www.midiamax.com/view.php?mat_id=709771)

"Um choque frontal entre um Ford Fiesta e um carreta, por volta de 19h desta segunda-feira, perto de Irapuru (178 km de Marília), na rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-294), matou três pessoas da mesma família de Marília.
O agente penitenciário do Centro de Ressocialização, Benedito Modesto, 37 anos, sua mulher, Andréa Cristiane Gonçalves Modesto, 32 anis, e o filho do casal, Matheus Gonçalves Modesto, 8 anos, foram as vítimas.
A Polícia Rodoviária Estadual ainda apura as causas do acidente que matou a família mariliense". (http://www.redebomdia.com.br/Noticias/Dia-a-dia/14399/Familia+de+Marilia+morre+em+acidente+de+transito)

"A Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo (Sesp) divulgou, na manhã desta quinta-feira (18), o resultado da Operação Carnaval em todo o Estado. Foram 31 assassinatos durante os cinco dias de folia. O Governo aponta que o número é 16% inferior aos 37 homicídios registrados no ano passado. Entretanto, reportagem publicada naquela época pelo gazetaonline demonstra que não houve diminuição na violência". (http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2010/02/603288-31+mortos+no+carnaval+do+espirito+santo+este+ano.html)

Que Deus nos proteja, amém.

quarta-feira, 10 de março de 2010

À espera de alguém (ou alguma coisa)


Quase 17h de uma quarta-feira. Era ainda aquele mês que as pessoas insistem em começar o ano nele, apesar dos dois meses anteriores já passados. Ele ainda sonhava quando ao mesmo tempo despertava de um pesadelo profundo - ou que, na verdade, era somente um despertar provisório.


Ué, mas logo uma quarta-feira? Sim, para ele nada fazia sentido essas coisas de escolher um dia da semana para ser "o dia" da semana. Final de semana e terça-feira ou quarta-feira para ele era praticamente a mesma coisa, tirando o trabalho. De fato, trabalhando era até melhor do que ficar ali, deitado no sofá, no calor, colando as costas no banco de trás do sofá de suor, assistindo Caldeirão do Huck, tentando cochilar - mas a angústia ainda o deixava acordado às tardes de possível "descanso". E olha lá que nem era aquela profissão que ele queria. Mas, fazer o quê, quando a vida te prega peças e você tenta não as compreendê-las.


A compreensão de mundo agora passou a ser diferente, desde o triste domingo de carnaval. Uma festa que lembra tanto alegria, agora por certo para ele vai só lembrar sofrimento. Será uma época do ano que ele irá refletir, e muito, sobre tudo, sobre todos.


O bloco do eu sozinho finalmente entra em cena, para tentar livrar o mal de tudo. Esse mal que assombra os pobres mortais, longe da lucidez quando pegam o capacete, a garrafa de cachaça e a estrada. É pa-pum, tchau pra mim, até logo pra você, adeus família que tanto me amava! A perda da vida sem sentido algum, sem explicação.


Talvez o álcool virá um dia sim me pegar e me levar para longe daqui. Mesmo indiretamente, como queria dona morte no domingão do carnaval. Ah, meu bem, como ele ficou estranho quando te viu dentro do carro, dona morte. E ali novamente era a bendita hora desta quarta-feira: 17h. Ali você se fez presente - ou tentou, pelo menos. Mas ele lembra muito bem, com todas as palavras que mentalizou em sua cabeça: "você não vai me pegar, não".


Que aflição, frio na espinha, bate nessa hora. Era ali, questão de vida ou morte. Um corpo no chão, na estrada, longe do carro. E o álcool o levou embora. Não o carro ou a moto, o álcool. Uma vida interrompida. O que nós temos de mais valioso no mundo, uma coisa que nada pode trazê-la de volta. Nada.


E volta a quarta-feira. Um sentimento de esperança e perda. Uma questão de honra. Os fracos não desistem facilmente, e por que ele deveria sucumbir neste momento? Daremos trabalho aos fortes, porque eles merecem.


Uma nova compreensão do mundo lhe salta aos olhos: a vida em primeiro lugar, maior que tudo e que todos. Todo dia é quarta-feira, todo dia é domingo de carnaval e todo dia é dia 13 de julho de 2006. (conflito mental)