
Quase 17h de uma quarta-feira. Era ainda aquele mês que as pessoas insistem em começar o ano nele, apesar dos dois meses anteriores já passados. Ele ainda sonhava quando ao mesmo tempo despertava de um pesadelo profundo - ou que, na verdade, era somente um despertar provisório.
Ué, mas logo uma quarta-feira? Sim, para ele nada fazia sentido essas coisas de escolher um dia da semana para ser "o dia" da semana. Final de semana e terça-feira ou quarta-feira para ele era praticamente a mesma coisa, tirando o trabalho. De fato, trabalhando era até melhor do que ficar ali, deitado no sofá, no calor, colando as costas no banco de trás do sofá de suor, assistindo Caldeirão do Huck, tentando cochilar - mas a angústia ainda o deixava acordado às tardes de possível "descanso". E olha lá que nem era aquela profissão que ele queria. Mas, fazer o quê, quando a vida te prega peças e você tenta não as compreendê-las.
A compreensão de mundo agora passou a ser diferente, desde o triste domingo de carnaval. Uma festa que lembra tanto alegria, agora por certo para ele vai só lembrar sofrimento. Será uma época do ano que ele irá refletir, e muito, sobre tudo, sobre todos.
O bloco do eu sozinho finalmente entra em cena, para tentar livrar o mal de tudo. Esse mal que assombra os pobres mortais, longe da lucidez quando pegam o capacete, a garrafa de cachaça e a estrada. É pa-pum, tchau pra mim, até logo pra você, adeus família que tanto me amava! A perda da vida sem sentido algum, sem explicação.
Talvez o álcool virá um dia sim me pegar e me levar para longe daqui. Mesmo indiretamente, como queria dona morte no domingão do carnaval. Ah, meu bem, como ele ficou estranho quando te viu dentro do carro, dona morte. E ali novamente era a bendita hora desta quarta-feira: 17h. Ali você se fez presente - ou tentou, pelo menos. Mas ele lembra muito bem, com todas as palavras que mentalizou em sua cabeça: "você não vai me pegar, não".
Que aflição, frio na espinha, bate nessa hora. Era ali, questão de vida ou morte. Um corpo no chão, na estrada, longe do carro. E o álcool o levou embora. Não o carro ou a moto, o álcool. Uma vida interrompida. O que nós temos de mais valioso no mundo, uma coisa que nada pode trazê-la de volta. Nada.
E volta a quarta-feira. Um sentimento de esperança e perda. Uma questão de honra. Os fracos não desistem facilmente, e por que ele deveria sucumbir neste momento? Daremos trabalho aos fortes, porque eles merecem.
Uma nova compreensão do mundo lhe salta aos olhos: a vida em primeiro lugar, maior que tudo e que todos. Todo dia é quarta-feira, todo dia é domingo de carnaval e todo dia é dia 13 de julho de 2006. (conflito mental)
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